Opera Barroca

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quinta-feira, 19 de março de 2009

O Jantar do Hotel Central; episódio da vida romântica

Neste jantar, as principais figuras proporcionam a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta. Este jantar pretende homenagear o banqueiro J. Cohen. Apresenta-se a visão crítica de alguns problemas sociais, bem como proporciona a Carlos a visão de Maria Eduarda.
Também a literatura e crítica literária são discutidas. Tomás de Alencar, poeta ultra-romântico, opõe-se ao realismo e ao naturalismo
, revelando incoerência quando condena no presente, o que cantara no passado. Sem mais argumentação, refugia-se na moral, considerando o realismo/naturalismo imoral. É um desfasado do seu tempo, defende a crítica literária de natureza académica. Este opõe-se a João da Ega, defensor da escola realista/naturalista.
Ega exagera e defende o cientificismo na literatura. Não distingue ciência e literatura.
Nesta discussão entram também, Carlos e Craft, recusando simultaneamente o ultra-romantismo
de Alencar e o exagero de Ega. Craft defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza, defendendo a arte pela arte. O narrador concorda com ambos.
As finanças são também um tema debatido neste jantar. O país tem necessidade dos empréstimos ao estrangeiro. Cohen demonstra o seu calculismo cínico quando, ao ter responsabilidades pelo seu cargo, afirma que o país vai direitinho para a banca rota.
Outro tema também focado é a história e a política, cujos intervenientes são Ega e Alencar. O primeiro, aplaude as afirmações de Cohen, defende uma catástrofe nacional como forma de acordar o país. Afirma que a raça portuguesa é a mais covarde e miserável da Europa. Aplaude a instalação da república e a invasão espanhola. Alencar, por sua vez, teme a invasão espanhola e defende o romantismo político, esquecendo o adormecimento geral do país.
Cohen afirma que Ega é um exagerado e que nas camadas políticas ainda há gente séria. Dâmaso diz que se acontecesse a invasão espanhola fugiria para Paris.
Deste jantar sobressai a falta de personalidade de Ega e Alencar, que mudam de opinião quando Cohen quer, note-se que Ega está comprometido por ser amante da sua esposa, e Dâmaso foge de tudo. Sobressai, também, a falta de cultura e civismo que domina as classes mais destacadas, Ega e Alencar quase chegam a vias de facto.


Personagens intervenientes:
- João da Ega, promotor da homenagem e representante do Realismo/ Naturalismo;
- Cohen, o homenageado, representante das altas Finanças;
- Tomás de Alencar, o poeta ultra-romântico;
- Dâmaso Salcete, o novo-rico, representante dos vícios do novo-riquismo burguês, a catedral dos vícios;
- Craft, o britânico, representante da cultura artística e britânica, o árbito das elegâncias.


Temas discutidos:
- A literatura e a crítica literária
Tomás de Alencar
- opositor do Realismo – Naturalismo;
- incoerente: condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
- falso moralista: refugia-se na moral, por não ter outra arma de defesa; - - acha o Realismo/ Naturalismo imoral;
- desfasado do seu tempo;
- defensor da crítica literária da natureza académica:
- preocupado com aspectos formais em detrimento da dimensão temática;
- preocupado com o plágio.


João da Ega
- defensor do Realismo/ Naturalismo;
- exagera, defendendo o cientivismo na literatura;
- não distingue Ciência e Literatura.


Carlos e Craft
- recusam o ultra-romantismo de Alencar;
- recusam o exagero de Ega;
- Carlos acha intolerável os ares científicos do realismo;
- Carlos defende que os caracteres se manifestam pela acção;
- Craft defende a arte como idealização do que melhor há na natureza;
- róximos da doutrina estética de Eça quando defende para a literatura uma nova formaCraft defende a arte pela arte.


O Narrador
- recusa o ultra-romantismo de Alencar;
- recusa a distorção do naturalismo contido nas afirmações de Ega;
- afirma uma estética próxima da de Craft: «estilos, tão preciosos e tão dúcteis»: tendência parnadiana.


- As finanças
- O país tem absoluta necessidade dos empréstimos estrangeiro;
- Cohen é calculista cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mãos e afirma alegramente que o país vai direitinho para a bancarrota.


João da Ega
- aplaude as afirmações do Cohen;
- delira com a bancarrota como determinante da agitação revolucionária;
- defende a invasão espanhola;
- defende o afastamento violento da Monarquia;
- aplaude a instalação da República;
- a raça portuguesa é a mais covarde e miserável da Europa: «Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.»


Tomás de Alencar
- teme a invasão espanhola: é um perigo para a independência nacional;
- defende o romantismo político:
- uma república governada por génios;
- a fraternização dos povos;
- esquece o adormecimento geral do país.

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