Opera Barroca

Opera Barroca

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Estrutura do Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira

1. Introdução (EXÓRDIO) - cap.I

A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra", os pregadores:
corrupção generalizada: ou a culpa é dos pregadores e do seu sal, Cristo condena-os, ou a culpa é dos fiéis e ouvintes, a solução dá-nos "Santo António foi sal da terra e foi sal do mar."

2. Desenvolvimento (EXPOSIÇÃO e CONFIRMAÇÃO) - cap. II a V
"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios."

2.1. LOUVOR DAS VIRTUDES EM GERAL - cap. II 
"Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, ..."

a) "ouvem e não falam"
b) "vós fostes os primeiros que Deus criou"
c) "e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes"
d) "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
e) "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"
f) "aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam."
g) "só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam"

2.2. LOUVORES DAS VIRTUDES EM PARTICULAR - cap. III 
- SANTO PEIXE DE TOBIAS
    "o fel era bom para curar da cegueira"; "o coração para lançar fora os demónios" (cura a cegueira do espírito e expulsa os maus pensamentos, demónios)

- RÉMORA
    "(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante." (grandeza da sua força e poder)

- TORPEDO
"Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?" (faz tremer e agita os espíritos para a conversão)

QUATRO-OLHOS
"e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes." (estar vigilante e alerta para a existência da condenação ao Inferno e a salvação no Céu)

3. REPREENSÃO DOS VÍCIOS EM GERAL - cap. IV
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões."

a) "(...) é que vos comedes uns aos outros."
b) "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos."
c) "Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."

3.1. REPREENSÕES EM PARTICULAR - cap. V (2.º momento da Confirmação)
- RONCADORES
    "É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?" (arrogância e a soberba)
- PEGADORES
"Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram." (oportunistas e parasitas sociais)
- VOADORES
"Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes." (presunção, vaidade, ambição)
- POLVO
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar." (falsidade, traição, dissimulação)

4. Conclusão (PERORAÇÃO) - cap. VI
"Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico." (exortação para praticarem o ouvido no sermão e assim louvarem a Deus)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Barroco

    O Barroco foi um movimento cultural que surgiu na Itália do século XVI e que se espalhou pela Europa. Este movimento refletiu-se num estilo estético e permaneceu vivo no mundo das artes até ao século XVIII (1580-1756). Historicamente, foi uma reação à severidade do período artístico anterior, o Classicismo, e que se desenvolveu após o processo da Reforma Católica. O estilo barroco serviu a Contra-Reforma. Como tendência artística desenvolveu-se tanto nas artes plásticas, escultura, arquitetura e pintura, como na literatura, na música e no teatro. As construções eram caracterizadas por uma liberdade de formas, pela grandiosidade dos monumentos, um excesso de detalhes e adornos e pela utilização da composição dinâmica.

Algumas características:
- época de ostentação e excesso de artificialismo;
- profunda inquietação e angustiante insatisfação interior;
- o homem descobre-se efémero e impotente perante o devir, enquadrado no espírito da contra-reforma;
- assume uma estética do deleite;
- valorização da arte obre o talento, o artificialismo sobre a essência;
- estética da ilusão e fingimento da realidade, a metáfora é o meio por excelência da transfiguração;
- capturar o destinatário pela sua abertura ao deslumbramento, à ostentação, ao deleite;
- captar o receptor com a maravilha do discurso engenhoso, sustentado na profusão de elementos decorativos;
- arte da persuasão, capaz de converter, arrebatar as almas, enlevadas na exaltação da sensibilidade;
- o tema da mudança ligado ao desengano da vida, alude à beleza efémera, à fragilidade e ao nada da vida, desenvolvendo a melancolia, o pessimismo, mascarado pelo artificialismo;
- sátira muito pormenorizada aos vícios da época.

    O catolicismo renovou a sua doutrinação, cumprindo as decisões do concílio de Trento, potenciando a arquitetura religiosa, bem como a difusão da doutrina para impressionar, DELECTARE, doutrinar e ensinar, DOCERE, e a conversão dos fiéis, MOVERE.
    Já na literatura, o que caracterizou o barroco foi o uso do cultismo e do conceptismo. O cultismo baseia-se no jogo de palavras que era exageradamente trabalhado quanto à forma, recorrendo a uma linguagem figurada exagerada. Já o conceptismo desenvolve-se em jogos de raciocínios de ideias, conducentes ao fim desejado, onde a metáfora ganha destaque por excelência. Todos estes elementos serviram de propaganda a uma nova realidade da sociedade da época, que, sob o ponto de vista do espírito da época, o homem era mau e necessitava de ser corrigido. Eram tempos condicionados por guerras e violências. Simultaneamente, essa visão é contrastada com o espetáculo e a festa das cortes e das celebrações litúrgicas dramatizadas. Assim, o barroco caracteriza-se pela tristeza, o efémero e esperança da salvação. O emocional predomina sobre sobre o racional.

Música barroca
Bach; toccata e fuga
https://www.youtube.com/watch?v=ipzR9bhei_o

Vivaldi; Spring, Winter, Storm 










sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Projecto Vercial

Sítio de consulta para completar o estudo sobre a obra de Padre António Vieira e não só. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/vieira.htm