Opera Barroca

Opera Barroca

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Algumas linhas de leitura de Frei Luís de Sousa.

O trabalho proposto em aula deverá ser o resultado de uma leitura e entendimento pessoal da obra, versando o tema aceite. Para tal, cada aluno deverá ler as leituras propostas no roteiro apresentado.
P.S. As indicações que se seguem pressupõem a leitura integral da obra.

1. Personagem Madalena
Acto I, Cena I;
Acto I, Cena VIII, vv. 22-38;
Acto II, Cena I, vv. 18-43;
Acto II, Cena I, vv. 89-104;
Acto II, Cena X, vv. 7-23.

2. Personagem Maria
Acto I, Cena II, vv. 25-31, 49-71, 83-93;
Acto I, Cena III;
Acto I, Cena V, vv. 49-53;
Acto II, Cena I, vv. 18-43;
Acto II, Cena II, vv. 19-35;
Acto II, Cena III, vv. 37-44;
Acto III, Cena I, vv. 17-23, 35-51:
A adoração pelo pai, enquanto cavaleiro de Malta.

3. Sebastianismo
Acto I, Cena II, vv. 120-127, 188-207;
Acto I, Cena III, vv. 1-25;
Acto I, Cena V, vv. 15-19;
Acto I, Cena VI;
Acto II, Cena I, vv. 106-118.

4. O feminino / casamento
Acto I, Cena II, vv. 105-119,130-157,178-186;
Acto II, Cena X, vv. 7-23.

5. Tragédia

6. O romantismo
Ver etiqueta caraterísticas do romantismo.

7. O popular
A força da personagem Telmo encerra muito do senso-comum que prefigura o povo e o seu pensar e sentir, assim como a personagem Maria.
Acto I, Cena III, vv. 15-25;
Acto I, Cena V, vv. 15-19.

8. Espaço

9. Tempo

10. O fogo e o seu papel na intriga
Acto I, Cena XI, XII.
Livro pág. 326, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant «Livro dos Símbolos».

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Conectores e articuladores do discurso

Os conectores e articuladores são palavras e orações que ligam frases entre si, estabelecendo vários tipos de relações.
Adição: e; além disso; pois; também; não só; mas também; e ainda; por um lado; por outro lado; neste sentido; segundo esta perspectiva, importa demonstrar; interessa salientar; é necessário sublinhar; desta forma; é a dinâmica de / que; é dentro destes parâmetros; é essencialmente em; na acepção do que aqui é definido; na perspectiva de; neste contexto; neste sentido; em primeiro lugar; num primeiro momento; antes de; além disso; em segundo lugar; em seguida; seguidamente; depois de; após; até que; simultaneamente; enquanto;
Enumeração: De uma forma mais minuciosa; primeiro,
Causa : pois; pois que; porque; por causa de; dado que; já que; uma vez que; porquanto; visto que; já que; porque; dado que; uma vez que; por causa de
Certeza: certamente; de certo; evidentemente; é claro; é evidente que; naturalmente; com toda a certeza; de facto;
Conclusão: portanto; concluindo; em suma; em resumo; logo; enfim; em conclusão; assim; chega-se, então; compreende-se assim que; finalmente; em conclusão; é no reencontro de; no decurso desta problemática; no que concerne; por último; no que à primeira … diz respeito; para finalizar; finalmente; em suma; por fim
Condição: se; excepto se; a menos que; desde que; salvo se; supondo que; (mesmo) admitindo que;
Consequência: de tal forma que; de modo que; por tudo isso; em consequência; tanto que; ao ser transposto; assinale-se; daí que; tanto ... que; é por isso que;
Dúvida: talvez; provavelmente; possivelmente; é provável; é possível; porventura; eventualmente;
Esclarecimento: significa isto que; quer isto dizer; não se pense que; com isto não pretendemos Espaço: nesse lugar; naquele lugar; lugar onde; ao lado; à direita; no meio; à esquerda; mais à frente;; lá; cá;
Exemplificação: por exemplo; é o caso de; como se pode ver; exemplificando; é o que se passa com; como se verifica.
Explicação:isto é; a saber; o que significa
Finalidade: para; para que; com o intuito de; a fim de; com o objectivo de
Opinião: parece-me que; acho que; a meu ver; entendo que; estou em crer que
Oposição / alternância : mas; apesar de; no entanto; porém; contudo; todavia; por outro lado; como observa; como se vê; há ainda outra forma; em confronto com; um outro sentido há que ter em conta; ressalve-se que; se é certo …, não é menos certo que ….; fosse ... fosse; ou... ou; seja ... seja;
Sublinhar ideias: por outras palavras; ou melhor; ou seja; isto é; em resumo; realce-se; assim; assim, dir-se-á; de acordo com; note-se; numas outra perspectiva; pode-se dizer; por outro lado; por seu lado; por sua vez; no que diz respeito a; refira-se também; significa esta afirmação que; também; tal acontece como; assinale-se; convém notar;
Reforço: efectivamente; com efeito; na verdade; como se disse; como vimos;
Semelhança: do mesmo modo; tal como; assim como; pela mesma razão; tal qual; por analogia; Tempo: depois; antes; após; até que; seguidamente; quando; logo que; antes; depois; então; dantes; em seguida
Concessão: Embora; ainda assim; convém; entretanto; mesmo assim
Início: a partir daqui; comecemos por fazer um breve inventário; ao nível de; no presente contexto; um aspecto fundamental é; trata-se na perspectiva do autor; verifica-se na afirmação de;

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sebastianismo



O Sebastianismo foi um movimento místico-secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei Filipe II de Espanha. Basicamente é um messianismo enraizado na crença popular com vincada expressão no séc. XVII. Numa primeira abordagem, traduz a inconformidade de Portugal com a situação política vigente, o domínio espanhol, e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre, no caso português, D. Sebastião.
Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém, o povo nunca aceitou o facto, divulgando a lenda de que o rei encontrava-se ainda vivo, apenas esperando o momento certo para regressar ao trono e afastar o domínio estrangeiro.
Entre a voz do povo, o seu mais popular divulgador foi o sapateiro de Trancoso, chamado Bandarra, que previu nas suas trovas o regresso do Desejado, como era chamado D. Sebastião. Explorando a crendice popular, vários oportunistas apresentavam-se como o rei oculto na tentativa de obter benefícios pessoais.
Ao longo do tempo, o termo Sebastianismo ganhou um sentido um pouco mais amplo, apenas designado por o messias, o qual imporia uma nova ordem política e social, passando a ser chamado apenas de o encoberto. Essa lenda, por estar presente no imaginário do povo português, acabou ganhando espaço também na literatura e na política.
Na literatura portuguesa, o mito do Sebastianismo pode ser encontrado, por exemplo, nas seguintes obras: «Os Lusíadas» de Luiz Vaz de Camões, onde o Sebastianismo tem um carácter religioso e patriótico; «Frei Luiz de Souza» de Almeida Garrett, essa obra é uma autêntica tragédia Sebastianista; No primeiro sermão de Padre António Vieira, que fala sobre os ideais Sebastianistas e que cita o surgimento de um novo Império: o quinto e último império; na «Mensagem» de Fernando Pessoa. Na terceira parte dessa obra, intitulada «O Encoberto», o tema central é o Sebastianismo e o sonho do «Quinto Império».
Um dos maiores impulsionadores desta corrente foi Padre António Vieira.
Num dos seus primeiros sermões, realizado em Janeiro de 1634, por altura da festa de São Sebastião, António Vieira ergue-se como um crítico daqueles que defendiam a tese do regresso do rei perdido nas areias de Alcácer Quibir, ironizando: «Foi S. Sebastião o encoberto porque o encobriu a realidade da vida debaixo da opinião da morte… Ó milagre! Ó maravilha da providência divina! Na opinião de todos era Sebastião morto, mas na verdade e na realidade estava Sebastião vivo, ferido sim e mal ferido, mas depois das feridas curado; deixado sim por morto de dia na campanha, mas de noite retirado dela, com vozes sim de sepultura e de sepultado, mas vivo, são, valente e tão forte como de antes era. Assim saiu Sebastião daquela batalha e assim foi achado depois dela: na opinião, morto. Mas na realidade, vivo». Neste sentido, ia Vieira contra a opinião dominante na Companhia de Jesus, já que nesta abundavam aqueles que davam eco aos mitos sebastianistas.
Esta temática foi retomada séculos mais tarde por Fernando Pessoa, no seu livro Mensagem. Nele, o poeta faz uma interpretação sebastianista da História de Portugal, em busca de um patriotismo perdido. O poema reinterpreta a História de Portugal em função de uma ressurreição de um passado heróico: «É a Hora!».

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Almeida Garret: Frei Luís de Sousa

Breve Análise

1. Acção dramática
Frei Luís de Sousa contém o drama que se abate sobre a família de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena. As apreensões e pressentimentos de Madalena de que a paz e a felicidade familiar possam estar em perigo tornam-se gradualmente numa realidade. O incêndio no final do Acto I permite uma mutação dos acontecimentos e precipita a tensão dramática. E no palácio que fora de D. João de Portugal, a acção atinge o seu clímax, quer pelas recordações de imagens e de vivências, quer pela possibilidade que dá ao Romeiro de reconhecer a sua antiga casa e de se identificar a Frei Jorge.
O Acto I inicia-se com Madalena a repetir os versos d'Os Lusíadas:
"Naquele engano d'alma ledo e cego,que a fortuna não deixa durar muito…"
As reflexões que se seguem transmitem, de forma explícita um presságio da desgraça que irá acontecer. Obedecendo à lógica do teatro clássico desenvolve a intriga de forma a que tudo culmine num desfecho dramático, cheio de intensidade: morte física de Maria e a morte para o mundo de Manuel e Madalena.

2. Do drama clássico ao drama romântico
Se se pretender fazer uma aproximação entre esta obra e a tragédia clássica, poder-se-á dizer que é possível encontrar quase todos os elementos da tragédia, embora nem sempre obedeça à sua estruturação objectiva.
A hybris é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na acção, mas sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge de que ainda em vida de D. João de Portugal amou Manuel de Sousa, apesar de guardar fidelidade ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente, consubstanciando o seu pecado indo contra as leis sagradas do casamento.
Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao incendiar o palácio para não receber os governadores, confrontando-se com as leis socias instituídas.
O conflito que nasce da hybris desenvolve-se através da peripécia (súbita alteração dos acontecimentos que modifica a acção e conduz ao desfecho), do reconhecimento do pecado cometido e da culpa que daí decorre (agnórise) imprevisto que provoca a catástrofe, ou seja o castigo. O desencadear da acção dá-nos conta do sofrimento (páthos) que toma conta das personagens trágicas e que se intensifica até ao climax da intriga, conduzindo ao desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, através dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões, o que se designava por catarse. A reflexão catártica é também dada pelas palavras do Prior, quando na última fala afirma: "Meus irmãos, Deus aflige neste mundo àqueles que ama. A coroa da glória não se dá senão no céu".
Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo, o destino, ananké, é uma presença constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como um força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar muito.
Garrett, recorrendo a muitos elementos da tragédia clássica, constrói um drama romântico, definido pela valorização dos sentimentos humanos das personagens; pela tentativa de racionalmente negar a crença no destino, mas psicologicamente deixar-se afectar por pressentimentos e acreditar no sebastianismo; pelo uso da prosa em substituição do verso e pela utilização de uma linguagem mais próxima da realidade vivida pelas personagens; sem preocupações excessivas com algumas regras, como a presença do coro ou a obediência perfeita à lei das três unidades do teatro clássico (acção, tempo e espaço).

3. Tempo
A acção dramática de Frei Luis de Sousa acontece em 1599, durante o domínio filipino, 21 anos após a batalha de Alcácer-Quibir. Esta aconteceu a 4 de Agosto de 1578.
"A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e un anos?", pergunta D. Madalena a Telmo (Acto I, cena 11).
"Vivemos seguros, em paz e felizes… há catorze anos" (Acto I, cena 11).
"Faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D. Madalena (Acto II, cena X).
Existe duas dimensões temporais. O presente conjuga-se numa só noite, a sexta-feira, embora com um hiato de oito dias, seguindo o tempo das tragédias clássicas, tudo se condensava em mais ou menos 24h. Aqui referenciado numa tarde, numa noite: «8 horas» e prolonga-se pela madrugada.
Por outro lado, existe uma outra dimensão temporal, evocada e sugerida de um tempo passado distante que condiciona as peripécias do presente, pairando com as suas ameaças e concentrando-se essa imensa temporalidade num único momento do presente, o climax do drama.
«Morei lá vinte anos cumpridos […] faz hoje um ano… quando me libertaram», diz o Romeiro (Acto II, cena XIV).
Temos um tempo da tragédia perfeira. Segundo a simbologia dos números, encontramos um conjunto de três, número da perfeição, grupos de 7 anos, número da tragédia. Um, 7 anos procurou Madalena por D.João de Portugal, os outros dois condensam-se nos 14 anos que dura o casamento Madalena com Manuel de Sousa Coutinho.

4. Personagens

D. Madalena de Vilhena é a primeira personagem que aparece na obra, mas pode-se afirmar que toda a familia tem um relevo significativo. São as relações entre esposos, pais e filha, o criado e os seus amos ou mesmo o apoio de Frei Jorge que estão em causa. Um drama abate-se sobre esta família e enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena se refugiam na vida religiosa, Maria morre como vítima inocente.
D. Madalena tinha 17 anos quando D. João de Portugal desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir. Durante 7 anos procurou-o. Há catorze anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho. Tem agora 38 anos (17 + 21). Mulher bela, de carácter nobre, vive uma felicidade efémera, pressentindo a desventura e a tragédia do seu amor. Racionalmente, não acredita no mito sebastianista que Ihe pode trazer D. João de Portugal, mas teme a possibilidade da sua vinda. E com medo que a encontramos a reflectir sobre os versos de Camões e a sentir, como que em pesadelo, a ideia de que a sobrevivência de D. João destrua a felicidade da sua família. No imaginário de D. Madalena, a apreensão torna-se pressentimento, dor e angústia. É neste terror que se vê na necessidade de voltar para a habitação onde com ele viveu.

Manuel de Sousa Coutinho (mais tarde Frei Luis de Sousa) é um nobre e honrado fidalgo, que queima o seu próprio palácio, para não receber os governadores. Embora apresente a razão a dominar os sentimentos, por vezes, estes sobrepõem-se quando se preocupa com a doença da filha. É um bom pai e um bom marido.

Maria de Noronha tem 13 anos, é uma menina bela, mas frágil, com tuberculose, e acredita com fervor que D. Sebastião regressará. Tem uma grande curiosidade e espírito idealista. Ao pressentir a hipótese de ser filha ilegítima sofre moralmente. Será ela a vítima sacrificada no drama.

Telmo Pais, o velho criado, confidente privilegiado, define-se pela lealdade e fidelidade. Não quer magoar nem pretende a desgraça da família de D. Madalena e Manuel. Mas como verdade recorrente no mito sebastianista, acredita que D. João de Portugal há-de regressar. No fim, acaba por trair um pouco a lealdade de escudeiro pelo amor que o une à filha daquele casal, D. Maria de Noronha. Representa um pouco o papel de coro da tragédia grega, com os seus diálogos, os seus agoiros ou os seus apartes.
O Romeiro apresenta-se como um peregrino, mas é o próprio D. João de Portugal. Os vinte anos de cativeiro transformaram-no e já nem a mulher o reconhece. D. João, de espectro invisível na imaginação das personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro que se identifica como "Ninguém". O seu fantasma paira sobre a felicidade daquele lar como uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.

Frei Jorge Coutinho, irmão de Manuel de Sousa, amigo da família e confidente nas horas de angústia, ouve a confissão angustiada de D. Madalena. Vai ter um papel importante na identificação do Romeiro, que na sua presença indicará o quadro de D. João de Portugal.

5. Espaço
O Acto I passa-se numa "câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância dos principios do século XVII", no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada. Neste espaço elegante parece brilhar uma felicidade, que será, apenas, aparente.
O Acto II acontece "no palácio que fora de D João de Portugal, em Almada, salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de familia…". As evocações do passado e a melancolia prenunciam a desgraça fatal.
O Acto lll passa-se na capela, que se situa na "parte baixa do palácio de D. João de Portugal". "É um casarão vasto sem ornato algum". O espaço denuncia o fim das preocupações materiais. Os bens do mundo são abandonados.
Assistimos, deste modo a uma concentração espacial, correspondendo ao aumento da intensidade dramática que vai envolvendo as personagens.

6. A Atmosfera dramática
Há ao longo da intriga dramática uma atmosfera psicológica do sebastianismo com a crença no regresso do monarca desaparecido e a crença no regresso da liberdade. Telmo Pais é quem melhor alimenta estas crenças, mas Maria mostra-se a sua melhor seguidora.
Percebe-se também uma atmosfera de superstição, nomeadamente desenvolvida em redor de D Madalena.

7. Simbologia
Vários elementos estão carregados de simbologia, muitas vezes a pressagiar o desenrolar da acção e a desgraça das personagens. Apenas como referência, podemos encontrar algumas situações e dados simbólicos:
A leitura dos versos de Camões referem-se ao trágico fim dos amores de D. Inês de Castro que, como D. Madalena, também vivia uma felicidade aparente quando a desgraça se abateu.
O tempo dos principais momentos da acção sugerem o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, tarde (Acto II), sexta-feira, alta noite (Acto lll); e à sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez; à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de Portugal; à sexta-feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos antes.
A numerologia (1) parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena casou 7 anos depois de D. João haver desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir; há 14 anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraça, com o aparecimento do Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha (21=3x7). 0 número 7 é um número primo que se liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de sete dias) e ao ciclo vital (as células humanas renovam-se de sete em sete anos), representa o descanso no fim da criação e pode-se encontrar em muitas representações da vida, do universo, do homem ou da religião; o número 7 indica o fim de um ciclo periódico. O número 3 é o número da criação e representa o círculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O número 21 corresponde a 3x7, ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o ciclo da busca de notícias sobre D. João de Portugal e o descanso após tanta procura); 14 anos foi o tempo de vida com Manuel de Sousa (2x7, o crescimento de uma dupla felicidade: como esposa de Manuel e como mãe de Maria; 14 é gerado por 1+4=5, apresentando-se como símbolo da relação sexual, do acto de amor); 21 anos completa a tríade de 7 apresentando-se como a morte, como o encerrar do círculo dos 3 ciclos periódicos O número 7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade (imagem do completar obrigatório do ciclo da vida), enquanto o 3 indica perfeição; o 21 significa, então, a fatalidade perfeita.
Maria vive apenas 13 anos. Na crença popular o 13 indica azar. Embora como número ímpar deva apresentar uma conotação positiva, em numerologia é gerado pelo 1+3=4, um número par, de influências negativas, que representa limites naturais. Maria vê limitados os seus momentos de vida.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Romantismo; caraterísticas

O individualismo – O “eu” é o valor máximo para os românticos. Por isso, o romântico afirma o culto da personalidade (egocentrismo), da expressão espontânea de sentimentos, do confessionalismo e a subjectividade.

O idealismo – O romântico aspira ao infinito e a um ideal que nunca é atingido. Por isso, valoriza o devaneio e o sonho, estados de criatividade por excelência.

A inadaptação social – Os românticos mantêm uma atitude de constante desprezo e rebeldia face à realidade e às normas estabelecidas, considerando-se inadaptado e vítima do destino.

A liberdade como um valor máximo – Contrariamente ao classicismo que cultiva a razão, o romântico cultiva o sentimento e a liberdade, daí a expressão “Viva a liberdade!”.

A atracção pela melancolia, pela solidão e pela morte evidenciam-se como solução para todos os males.

A sacralização do amor – O amor é um sentimento vivido de forma absoluta, exagerada e contraditória, precisamente por ser um ideal inatingível. A mulher ou é um ser angelical bom (mulher-anjo, que leva à salvação), ou é um ser angelical mau (mulher-demónio, que leva à perdição).

O “mal du siède” ou o “spleen” – É o pessimismo, o cansaço doentio e melancólico, a solidão, uma espécie de desespero de viver, resultante da posição idealista que mantém perante a vida. Por isso, o romântico é sempre um ser incompreendido que cultiva o sofrimento e a solidão.

O gosto pela natureza nocturna – Para os românticos, a natureza é a projecção do seu estado de alma, em geral tumultuoso e depressivo. Assim, esta é representada de forma invernosa, sombria, agreste, solitária e melancólica “locus horrendus”, contrariamente ao “locus amoenus” dos clássicos, que é uma natureza luminosa, harmoniosa e primaveril. Esta natureza nocturna traduz a atracção que o romântico tem pela própria morte.

O amor a tudo o que é popular e nacional – Para o romântico, é no povo que reside a alma nacional. Daí o gosto pela Idade Média, pelas lendas, pelas tradições, pelo folclore, por tudo o que é nacional.

A linguagem é declamativa e teatral, porém o vocabulário é muitas vezes mais corrente e familiar. 



Eugène Delacroix (1798-1863) França; A liberdade guiando o povo.
O incompreendido que sofre e luta pela afirmação do seu absoluto. O idealista.



domingo, 2 de novembro de 2008

A terceira Margem do Rio, João Guimarães Rosa

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio. Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Estrutura do Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira

1. Introdução (EXÓRDIO) - cap.I

A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra", os pregadores:
corrupção generalizada: ou a culpa é dos pregadores e do seu sal, Cristo condena-os, ou a culpa é dos fiéis e ouvintes, a solução dá-nos "Santo António foi sal da terra e foi sal do mar."

2. Desenvolvimento (EXPOSIÇÃO e CONFIRMAÇÃO) - cap. II a V
"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios."

2.1. LOUVOR DAS VIRTUDES EM GERAL - cap. II 
"Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, ..."

a) "ouvem e não falam"
b) "vós fostes os primeiros que Deus criou"
c) "e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes"
d) "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
e) "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"
f) "aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam."
g) "só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam"

2.2. LOUVORES DAS VIRTUDES EM PARTICULAR - cap. III 
- SANTO PEIXE DE TOBIAS
    "o fel era bom para curar da cegueira"; "o coração para lançar fora os demónios" (cura a cegueira do espírito e expulsa os maus pensamentos, demónios)

- RÉMORA
    "(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante." (grandeza da sua força e poder)

- TORPEDO
"Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?" (faz tremer e agita os espíritos para a conversão)

QUATRO-OLHOS
"e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes." (estar vigilante e alerta para a existência da condenação ao Inferno e a salvação no Céu)

3. REPREENSÃO DOS VÍCIOS EM GERAL - cap. IV
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões."

a) "(...) é que vos comedes uns aos outros."
b) "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos."
c) "Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."

3.1. REPREENSÕES EM PARTICULAR - cap. V (2.º momento da Confirmação)
- RONCADORES
    "É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?" (arrogância e a soberba)
- PEGADORES
"Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram." (oportunistas e parasitas sociais)
- VOADORES
"Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes." (presunção, vaidade, ambição)
- POLVO
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar." (falsidade, traição, dissimulação)

4. Conclusão (PERORAÇÃO) - cap. VI
"Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico." (exortação para praticarem o ouvido no sermão e assim louvarem a Deus)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Barroco

    O Barroco foi um movimento cultural que surgiu na Itália do século XVI e que se espalhou pela Europa. Este movimento refletiu-se num estilo estético e permaneceu vivo no mundo das artes até ao século XVIII (1580-1756). Historicamente, foi uma reação à severidade do período artístico anterior, o Classicismo, e que se desenvolveu após o processo da Reforma Católica. O estilo barroco serviu a Contra-Reforma. Como tendência artística desenvolveu-se tanto nas artes plásticas, escultura, arquitetura e pintura, como na literatura, na música e no teatro. As construções eram caracterizadas por uma liberdade de formas, pela grandiosidade dos monumentos, um excesso de detalhes e adornos e pela utilização da composição dinâmica.

Algumas características:
- época de ostentação e excesso de artificialismo;
- profunda inquietação e angustiante insatisfação interior;
- o homem descobre-se efémero e impotente perante o devir, enquadrado no espírito da contra-reforma;
- assume uma estética do deleite;
- valorização da arte obre o talento, o artificialismo sobre a essência;
- estética da ilusão e fingimento da realidade, a metáfora é o meio por excelência da transfiguração;
- capturar o destinatário pela sua abertura ao deslumbramento, à ostentação, ao deleite;
- captar o receptor com a maravilha do discurso engenhoso, sustentado na profusão de elementos decorativos;
- arte da persuasão, capaz de converter, arrebatar as almas, enlevadas na exaltação da sensibilidade;
- o tema da mudança ligado ao desengano da vida, alude à beleza efémera, à fragilidade e ao nada da vida, desenvolvendo a melancolia, o pessimismo, mascarado pelo artificialismo;
- sátira muito pormenorizada aos vícios da época.

    O catolicismo renovou a sua doutrinação, cumprindo as decisões do concílio de Trento, potenciando a arquitetura religiosa, bem como a difusão da doutrina para impressionar, DELECTARE, doutrinar e ensinar, DOCERE, e a conversão dos fiéis, MOVERE.
    Já na literatura, o que caracterizou o barroco foi o uso do cultismo e do conceptismo. O cultismo baseia-se no jogo de palavras que era exageradamente trabalhado quanto à forma, recorrendo a uma linguagem figurada exagerada. Já o conceptismo desenvolve-se em jogos de raciocínios de ideias, conducentes ao fim desejado, onde a metáfora ganha destaque por excelência. Todos estes elementos serviram de propaganda a uma nova realidade da sociedade da época, que, sob o ponto de vista do espírito da época, o homem era mau e necessitava de ser corrigido. Eram tempos condicionados por guerras e violências. Simultaneamente, essa visão é contrastada com o espetáculo e a festa das cortes e das celebrações litúrgicas dramatizadas. Assim, o barroco caracteriza-se pela tristeza, o efémero e esperança da salvação. O emocional predomina sobre sobre o racional.

Música barroca
Bach; toccata e fuga
https://www.youtube.com/watch?v=ipzR9bhei_o

Vivaldi; Spring, Winter, Storm 










sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Projecto Vercial

Sítio de consulta para completar o estudo sobre a obra de Padre António Vieira e não só. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/vieira.htm