sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Algumas linhas de leitura de Frei Luís de Sousa.
P.S. As indicações que se seguem pressupõem a leitura integral da obra.
1. Personagem Madalena
Acto I, Cena I;
Acto I, Cena VIII, vv. 22-38;
Acto II, Cena I, vv. 18-43;
Acto II, Cena I, vv. 89-104;
Acto II, Cena X, vv. 7-23.
2. Personagem Maria
Acto I, Cena II, vv. 25-31, 49-71, 83-93;
Acto I, Cena III;
Acto I, Cena V, vv. 49-53;
Acto II, Cena I, vv. 18-43;
Acto II, Cena II, vv. 19-35;
Acto II, Cena III, vv. 37-44;
Acto III, Cena I, vv. 17-23, 35-51:
A adoração pelo pai, enquanto cavaleiro de Malta.
3. Sebastianismo
Acto I, Cena II, vv. 120-127, 188-207;
Acto I, Cena III, vv. 1-25;
Acto I, Cena V, vv. 15-19;
Acto I, Cena VI;
Acto II, Cena I, vv. 106-118.
4. O feminino / casamento
Acto I, Cena II, vv. 105-119,130-157,178-186;
Acto II, Cena X, vv. 7-23.
5. Tragédia
6. O romantismo
Ver etiqueta caraterísticas do romantismo.
7. O popular
A força da personagem Telmo encerra muito do senso-comum que prefigura o povo e o seu pensar e sentir, assim como a personagem Maria.
Acto I, Cena III, vv. 15-25;
Acto I, Cena V, vv. 15-19.
8. Espaço
9. Tempo
10. O fogo e o seu papel na intriga
Acto I, Cena XI, XII.
Livro pág. 326, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant «Livro dos Símbolos».
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Conectores e articuladores do discurso
Adição: e; além disso; pois; também; não só; mas também; e ainda; por um lado; por outro lado; neste sentido; segundo esta perspectiva, importa demonstrar; interessa salientar; é necessário sublinhar; desta forma; é a dinâmica de / que; é dentro destes parâmetros; é essencialmente em; na acepção do que aqui é definido; na perspectiva de; neste contexto; neste sentido; em primeiro lugar; num primeiro momento; antes de; além disso; em segundo lugar; em seguida; seguidamente; depois de; após; até que; simultaneamente; enquanto;
Enumeração: De uma forma mais minuciosa; primeiro,
Causa : pois; pois que; porque; por causa de; dado que; já que; uma vez que; porquanto; visto que; já que; porque; dado que; uma vez que; por causa de
Certeza: certamente; de certo; evidentemente; é claro; é evidente que; naturalmente; com toda a certeza; de facto;
Conclusão: portanto; concluindo; em suma; em resumo; logo; enfim; em conclusão; assim; chega-se, então; compreende-se assim que; finalmente; em conclusão; é no reencontro de; no decurso desta problemática; no que concerne; por último; no que à primeira … diz respeito; para finalizar; finalmente; em suma; por fim
Condição: se; excepto se; a menos que; desde que; salvo se; supondo que; (mesmo) admitindo que;
Consequência: de tal forma que; de modo que; por tudo isso; em consequência; tanto que; ao ser transposto; assinale-se; daí que; tanto ... que; é por isso que;
Dúvida: talvez; provavelmente; possivelmente; é provável; é possível; porventura; eventualmente;
Esclarecimento: significa isto que; quer isto dizer; não se pense que; com isto não pretendemos Espaço: nesse lugar; naquele lugar; lugar onde; ao lado; à direita; no meio; à esquerda; mais à frente;; lá; cá;
Exemplificação: por exemplo; é o caso de; como se pode ver; exemplificando; é o que se passa com; como se verifica.
Explicação:isto é; a saber; o que significa
Finalidade: para; para que; com o intuito de; a fim de; com o objectivo de
Opinião: parece-me que; acho que; a meu ver; entendo que; estou em crer que
Oposição / alternância : mas; apesar de; no entanto; porém; contudo; todavia; por outro lado; como observa; como se vê; há ainda outra forma; em confronto com; um outro sentido há que ter em conta; ressalve-se que; se é certo …, não é menos certo que ….; fosse ... fosse; ou... ou; seja ... seja;
Sublinhar ideias: por outras palavras; ou melhor; ou seja; isto é; em resumo; realce-se; assim; assim, dir-se-á; de acordo com; note-se; numas outra perspectiva; pode-se dizer; por outro lado; por seu lado; por sua vez; no que diz respeito a; refira-se também; significa esta afirmação que; também; tal acontece como; assinale-se; convém notar;
Reforço: efectivamente; com efeito; na verdade; como se disse; como vimos;
Semelhança: do mesmo modo; tal como; assim como; pela mesma razão; tal qual; por analogia; Tempo: depois; antes; após; até que; seguidamente; quando; logo que; antes; depois; então; dantes; em seguida
Concessão: Embora; ainda assim; convém; entretanto; mesmo assim
Início: a partir daqui; comecemos por fazer um breve inventário; ao nível de; no presente contexto; um aspecto fundamental é; trata-se na perspectiva do autor; verifica-se na afirmação de;
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Uma linha de leitura muito interessante em Frei Luís de Sousa
Leitura religiosa: entre a angústia, a revolta e a esperança cristã
http://aamo-te.blogspot.com/2008/01/o-cristianismo-no-frei-lus-de-sousa.html
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Sebastianismo
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Almeida Garret: Frei Luís de Sousa
1. Acção dramática
Frei Luís de Sousa contém o drama que se abate sobre a família de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena. As apreensões e pressentimentos de Madalena de que a paz e a felicidade familiar possam estar em perigo tornam-se gradualmente numa realidade. O incêndio no final do Acto I permite uma mutação dos acontecimentos e precipita a tensão dramática. E no palácio que fora de D. João de Portugal, a acção atinge o seu clímax, quer pelas recordações de imagens e de vivências, quer pela possibilidade que dá ao Romeiro de reconhecer a sua antiga casa e de se identificar a Frei Jorge.
O Acto I inicia-se com Madalena a repetir os versos d'Os Lusíadas:
"Naquele engano d'alma ledo e cego,que a fortuna não deixa durar muito…"
As reflexões que se seguem transmitem, de forma explícita um presságio da desgraça que irá acontecer. Obedecendo à lógica do teatro clássico desenvolve a intriga de forma a que tudo culmine num desfecho dramático, cheio de intensidade: morte física de Maria e a morte para o mundo de Manuel e Madalena.
2. Do drama clássico ao drama romântico
Se se pretender fazer uma aproximação entre esta obra e a tragédia clássica, poder-se-á dizer que é possível encontrar quase todos os elementos da tragédia, embora nem sempre obedeça à sua estruturação objectiva.
A hybris é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na acção, mas sabemos que ele existiu pela confissão a Frei Jorge de que ainda em vida de D. João de Portugal amou Manuel de Sousa, apesar de guardar fidelidade ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente, consubstanciando o seu pecado indo contra as leis sagradas do casamento.
Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao incendiar o palácio para não receber os governadores, confrontando-se com as leis socias instituídas.
O conflito que nasce da hybris desenvolve-se através da peripécia (súbita alteração dos acontecimentos que modifica a acção e conduz ao desfecho), do reconhecimento do pecado cometido e da culpa que daí decorre (agnórise) imprevisto que provoca a catástrofe, ou seja o castigo. O desencadear da acção dá-nos conta do sofrimento (páthos) que toma conta das personagens trágicas e que se intensifica até ao climax da intriga, conduzindo ao desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, através dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões, o que se designava por catarse. A reflexão catártica é também dada pelas palavras do Prior, quando na última fala afirma: "Meus irmãos, Deus aflige neste mundo àqueles que ama. A coroa da glória não se dá senão no céu".
Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo, o destino, ananké, é uma presença constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como um força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar muito.
Garrett, recorrendo a muitos elementos da tragédia clássica, constrói um drama romântico, definido pela valorização dos sentimentos humanos das personagens; pela tentativa de racionalmente negar a crença no destino, mas psicologicamente deixar-se afectar por pressentimentos e acreditar no sebastianismo; pelo uso da prosa em substituição do verso e pela utilização de uma linguagem mais próxima da realidade vivida pelas personagens; sem preocupações excessivas com algumas regras, como a presença do coro ou a obediência perfeita à lei das três unidades do teatro clássico (acção, tempo e espaço).
3. Tempo
A acção dramática de Frei Luis de Sousa acontece em 1599, durante o domínio filipino, 21 anos após a batalha de Alcácer-Quibir. Esta aconteceu a 4 de Agosto de 1578.
"A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e un anos?", pergunta D. Madalena a Telmo (Acto I, cena 11).
"Vivemos seguros, em paz e felizes… há catorze anos" (Acto I, cena 11).
"Faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D. Madalena (Acto II, cena X).
Existe duas dimensões temporais. O presente conjuga-se numa só noite, a sexta-feira, embora com um hiato de oito dias, seguindo o tempo das tragédias clássicas, tudo se condensava em mais ou menos 24h. Aqui referenciado numa tarde, numa noite: «8 horas» e prolonga-se pela madrugada.
Por outro lado, existe uma outra dimensão temporal, evocada e sugerida de um tempo passado distante que condiciona as peripécias do presente, pairando com as suas ameaças e concentrando-se essa imensa temporalidade num único momento do presente, o climax do drama.
«Morei lá vinte anos cumpridos […] faz hoje um ano… quando me libertaram», diz o Romeiro (Acto II, cena XIV).
Temos um tempo da tragédia perfeira. Segundo a simbologia dos números, encontramos um conjunto de três, número da perfeição, grupos de 7 anos, número da tragédia. Um, 7 anos procurou Madalena por D.João de Portugal, os outros dois condensam-se nos 14 anos que dura o casamento Madalena com Manuel de Sousa Coutinho.
4. Personagens
D. Madalena de Vilhena é a primeira personagem que aparece na obra, mas pode-se afirmar que toda a familia tem um relevo significativo. São as relações entre esposos, pais e filha, o criado e os seus amos ou mesmo o apoio de Frei Jorge que estão em causa. Um drama abate-se sobre esta família e enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena se refugiam na vida religiosa, Maria morre como vítima inocente.
D. Madalena tinha 17 anos quando D. João de Portugal desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir. Durante 7 anos procurou-o. Há catorze anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho. Tem agora 38 anos (17 + 21). Mulher bela, de carácter nobre, vive uma felicidade efémera, pressentindo a desventura e a tragédia do seu amor. Racionalmente, não acredita no mito sebastianista que Ihe pode trazer D. João de Portugal, mas teme a possibilidade da sua vinda. E com medo que a encontramos a reflectir sobre os versos de Camões e a sentir, como que em pesadelo, a ideia de que a sobrevivência de D. João destrua a felicidade da sua família. No imaginário de D. Madalena, a apreensão torna-se pressentimento, dor e angústia. É neste terror que se vê na necessidade de voltar para a habitação onde com ele viveu.
Manuel de Sousa Coutinho (mais tarde Frei Luis de Sousa) é um nobre e honrado fidalgo, que queima o seu próprio palácio, para não receber os governadores. Embora apresente a razão a dominar os sentimentos, por vezes, estes sobrepõem-se quando se preocupa com a doença da filha. É um bom pai e um bom marido.
Maria de Noronha tem 13 anos, é uma menina bela, mas frágil, com tuberculose, e acredita com fervor que D. Sebastião regressará. Tem uma grande curiosidade e espírito idealista. Ao pressentir a hipótese de ser filha ilegítima sofre moralmente. Será ela a vítima sacrificada no drama.
Telmo Pais, o velho criado, confidente privilegiado, define-se pela lealdade e fidelidade. Não quer magoar nem pretende a desgraça da família de D. Madalena e Manuel. Mas como verdade recorrente no mito sebastianista, acredita que D. João de Portugal há-de regressar. No fim, acaba por trair um pouco a lealdade de escudeiro pelo amor que o une à filha daquele casal, D. Maria de Noronha. Representa um pouco o papel de coro da tragédia grega, com os seus diálogos, os seus agoiros ou os seus apartes.
O Romeiro apresenta-se como um peregrino, mas é o próprio D. João de Portugal. Os vinte anos de cativeiro transformaram-no e já nem a mulher o reconhece. D. João, de espectro invisível na imaginação das personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro que se identifica como "Ninguém". O seu fantasma paira sobre a felicidade daquele lar como uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.
Frei Jorge Coutinho, irmão de Manuel de Sousa, amigo da família e confidente nas horas de angústia, ouve a confissão angustiada de D. Madalena. Vai ter um papel importante na identificação do Romeiro, que na sua presença indicará o quadro de D. João de Portugal.
5. Espaço
O Acto I passa-se numa "câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância dos principios do século XVII", no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada. Neste espaço elegante parece brilhar uma felicidade, que será, apenas, aparente.
O Acto II acontece "no palácio que fora de D João de Portugal, em Almada, salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de familia…". As evocações do passado e a melancolia prenunciam a desgraça fatal.
O Acto lll passa-se na capela, que se situa na "parte baixa do palácio de D. João de Portugal". "É um casarão vasto sem ornato algum". O espaço denuncia o fim das preocupações materiais. Os bens do mundo são abandonados.
Assistimos, deste modo a uma concentração espacial, correspondendo ao aumento da intensidade dramática que vai envolvendo as personagens.
6. A Atmosfera dramática
Há ao longo da intriga dramática uma atmosfera psicológica do sebastianismo com a crença no regresso do monarca desaparecido e a crença no regresso da liberdade. Telmo Pais é quem melhor alimenta estas crenças, mas Maria mostra-se a sua melhor seguidora.
Percebe-se também uma atmosfera de superstição, nomeadamente desenvolvida em redor de D Madalena.
7. Simbologia
Vários elementos estão carregados de simbologia, muitas vezes a pressagiar o desenrolar da acção e a desgraça das personagens. Apenas como referência, podemos encontrar algumas situações e dados simbólicos:
A leitura dos versos de Camões referem-se ao trágico fim dos amores de D. Inês de Castro que, como D. Madalena, também vivia uma felicidade aparente quando a desgraça se abateu.
O tempo dos principais momentos da acção sugerem o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, tarde (Acto II), sexta-feira, alta noite (Acto lll); e à sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez; à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de Portugal; à sexta-feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos antes.
A numerologia (1) parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena casou 7 anos depois de D. João haver desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir; há 14 anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraça, com o aparecimento do Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha (21=3x7). 0 número 7 é um número primo que se liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de sete dias) e ao ciclo vital (as células humanas renovam-se de sete em sete anos), representa o descanso no fim da criação e pode-se encontrar em muitas representações da vida, do universo, do homem ou da religião; o número 7 indica o fim de um ciclo periódico. O número 3 é o número da criação e representa o círculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O número 21 corresponde a 3x7, ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o ciclo da busca de notícias sobre D. João de Portugal e o descanso após tanta procura); 14 anos foi o tempo de vida com Manuel de Sousa (2x7, o crescimento de uma dupla felicidade: como esposa de Manuel e como mãe de Maria; 14 é gerado por 1+4=5, apresentando-se como símbolo da relação sexual, do acto de amor); 21 anos completa a tríade de 7 apresentando-se como a morte, como o encerrar do círculo dos 3 ciclos periódicos O número 7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade (imagem do completar obrigatório do ciclo da vida), enquanto o 3 indica perfeição; o 21 significa, então, a fatalidade perfeita.
Maria vive apenas 13 anos. Na crença popular o 13 indica azar. Embora como número ímpar deva apresentar uma conotação positiva, em numerologia é gerado pelo 1+3=4, um número par, de influências negativas, que representa limites naturais. Maria vê limitados os seus momentos de vida.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Romantismo; caraterísticas
O
individualismo – O “eu” é o valor máximo para os românticos. Por
isso, o romântico afirma o culto da personalidade (egocentrismo), da expressão
espontânea de sentimentos, do confessionalismo e a subjectividade.
O idealismo – O
romântico aspira ao infinito e a um ideal que nunca é atingido. Por isso,
valoriza o devaneio e o sonho, estados de criatividade por excelência.
A
inadaptação social – Os românticos mantêm uma atitude de constante
desprezo e rebeldia face à realidade e às normas estabelecidas, considerando-se
inadaptado e vítima do destino.
A liberdade como um
valor máximo – Contrariamente ao classicismo que cultiva a razão, o romântico
cultiva o sentimento e a liberdade, daí a expressão “Viva a liberdade!”.
A atracção
pela melancolia, pela solidão e pela morte evidenciam-se como solução para
todos os males.
A
sacralização do amor – O amor é um sentimento vivido de forma absoluta,
exagerada e contraditória, precisamente por ser um ideal inatingível. A mulher
ou é um ser angelical bom (mulher-anjo, que leva à salvação), ou é um ser
angelical mau (mulher-demónio, que leva à perdição).
O “mal du
siède” ou o “spleen” – É o pessimismo, o cansaço doentio e melancólico, a
solidão, uma espécie de desespero de viver, resultante da posição idealista que
mantém perante a vida. Por isso, o romântico é sempre um ser incompreendido que
cultiva o sofrimento e a solidão.
O gosto pela
natureza nocturna – Para os românticos, a natureza é a projecção do seu
estado de alma, em geral tumultuoso e depressivo. Assim, esta é representada de
forma invernosa, sombria, agreste, solitária e melancólica “locus horrendus”,
contrariamente ao “locus amoenus” dos clássicos, que é uma natureza luminosa,
harmoniosa e primaveril. Esta natureza nocturna traduz a atracção que o
romântico tem pela própria morte.
O amor a
tudo o que é popular e nacional – Para o romântico, é no povo que reside a alma
nacional. Daí o gosto pela Idade Média, pelas lendas, pelas tradições, pelo
folclore, por tudo o que é nacional.
A linguagem é
declamativa e teatral, porém o vocabulário é muitas vezes mais corrente e
familiar.
domingo, 2 de novembro de 2008
A terceira Margem do Rio, João Guimarães Rosa
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Estrutura do Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira
A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra", os pregadores:
2. Desenvolvimento (EXPOSIÇÃO e CONFIRMAÇÃO) - cap. II a V
"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios."
2.1. LOUVOR DAS VIRTUDES EM GERAL - cap. II
"Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, ..."
a) "ouvem e não falam"
b) "vós fostes os primeiros que Deus criou"
c) "e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes"
d) "entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
e) "aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"
f) "aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam."
g) "só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam"
- SANTO PEIXE DE TOBIAS
"o fel era bom para curar da cegueira"; "o coração para lançar fora os demónios" (cura a cegueira do espírito e expulsa os maus pensamentos, demónios)
- RÉMORA
"(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante." (grandeza da sua força e poder)
"Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?" (faz tremer e agita os espíritos para a conversão)
"e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes." (estar vigilante e alerta para a existência da condenação ao Inferno e a salvação no Céu)
3. REPREENSÃO DOS VÍCIOS EM GERAL - cap. IV
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões."
a) "(...) é que vos comedes uns aos outros."
b) "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos."
c) "Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."
3.1. REPREENSÕES EM PARTICULAR - cap. V (2.º momento da Confirmação)
- RONCADORES
"É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?" (arrogância e a soberba)
- PEGADORES
"Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram." (oportunistas e parasitas sociais)
- VOADORES
"Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? (...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes." (presunção, vaidade, ambição)
- POLVO
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar." (falsidade, traição, dissimulação)
4. Conclusão (PERORAÇÃO) - cap. VI
"Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico." (exortação para praticarem o ouvido no sermão e assim louvarem a Deus)