Opera Barroca

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sebastianismo



O Sebastianismo foi um movimento místico-secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos do rei Filipe II de Espanha. Basicamente é um messianismo enraizado na crença popular com vincada expressão no séc. XVII. Numa primeira abordagem, traduz a inconformidade de Portugal com a situação política vigente, o domínio espanhol, e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre, no caso português, D. Sebastião.
Apesar do corpo do rei ter sido removido para Belém, o povo nunca aceitou o facto, divulgando a lenda de que o rei encontrava-se ainda vivo, apenas esperando o momento certo para regressar ao trono e afastar o domínio estrangeiro.
Entre a voz do povo, o seu mais popular divulgador foi o sapateiro de Trancoso, chamado Bandarra, que previu nas suas trovas o regresso do Desejado, como era chamado D. Sebastião. Explorando a crendice popular, vários oportunistas apresentavam-se como o rei oculto na tentativa de obter benefícios pessoais.
Ao longo do tempo, o termo Sebastianismo ganhou um sentido um pouco mais amplo, apenas designado por o messias, o qual imporia uma nova ordem política e social, passando a ser chamado apenas de o encoberto. Essa lenda, por estar presente no imaginário do povo português, acabou ganhando espaço também na literatura e na política.
Na literatura portuguesa, o mito do Sebastianismo pode ser encontrado, por exemplo, nas seguintes obras: «Os Lusíadas» de Luiz Vaz de Camões, onde o Sebastianismo tem um carácter religioso e patriótico; «Frei Luiz de Souza» de Almeida Garrett, essa obra é uma autêntica tragédia Sebastianista; No primeiro sermão de Padre António Vieira, que fala sobre os ideais Sebastianistas e que cita o surgimento de um novo Império: o quinto e último império; na «Mensagem» de Fernando Pessoa. Na terceira parte dessa obra, intitulada «O Encoberto», o tema central é o Sebastianismo e o sonho do «Quinto Império».
Um dos maiores impulsionadores desta corrente foi Padre António Vieira.
Num dos seus primeiros sermões, realizado em Janeiro de 1634, por altura da festa de São Sebastião, António Vieira ergue-se como um crítico daqueles que defendiam a tese do regresso do rei perdido nas areias de Alcácer Quibir, ironizando: «Foi S. Sebastião o encoberto porque o encobriu a realidade da vida debaixo da opinião da morte… Ó milagre! Ó maravilha da providência divina! Na opinião de todos era Sebastião morto, mas na verdade e na realidade estava Sebastião vivo, ferido sim e mal ferido, mas depois das feridas curado; deixado sim por morto de dia na campanha, mas de noite retirado dela, com vozes sim de sepultura e de sepultado, mas vivo, são, valente e tão forte como de antes era. Assim saiu Sebastião daquela batalha e assim foi achado depois dela: na opinião, morto. Mas na realidade, vivo». Neste sentido, ia Vieira contra a opinião dominante na Companhia de Jesus, já que nesta abundavam aqueles que davam eco aos mitos sebastianistas.
Esta temática foi retomada séculos mais tarde por Fernando Pessoa, no seu livro Mensagem. Nele, o poeta faz uma interpretação sebastianista da História de Portugal, em busca de um patriotismo perdido. O poema reinterpreta a História de Portugal em função de uma ressurreição de um passado heróico: «É a Hora!».

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