Opera Barroca

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Da ordem urbana de Mafra medieval ao argumentário da contra-reforma no Palácio de Mafra no tempo de D. João V

 «Suposto pois» que já foi trabalhada a unidade do «Sermão de Sº António aos Peixes» de P. António Vieira» e o texto argumentativo, nomeadamente a contextualização histórico-literária.


1- Mafra medieval.

- Deus centro do mundo, teocentrismo, expressa-se o na organização do povoado medieval.

- Capela/Igreja de S. André no ponto mais elevado, exprimindo a centralidade, o domínio e poder sobre o povo, que se acolhe em casebres dentro das muralhas, encomendando-se à guarda da divina providência. (partilha de ideias)

- Ordem social: ao Rei, entidade distante e a lutar para afirmar o seu poder, nestas comunidades pequenas sobressai a Igreja com autoridade espiritual, único interlocutor com o divino, e autoridade temporal para impor uma ordem social. Entre o Senhor, dono e proprietário das terras, e o povo, trabalhador como jornaleiro, existe uma relação de dependência, de vassalagem, que nos aparece na poesia trovadoresca.

Põe os teus fones e desfruta do espaço ao som de: música; canto gregoriano medieval: https://www.youtube.com/watch?v=7EG2oiF2tow

Evidências da organização do edificado:

- da Igreja românico-gótica, românico sombrio, a fortaleza, a cruz cimeira templária (o pomo da espada). O gótico presente nas capelas botantes e nos acrescentos da porta central e lateral. Uma nova estética da luz. Orientação nascente (renascimento / Jerusalém) e poente / o ocaso / a morte)

-da muralha, vestígios de pequenos panos.

-do casario medieval, degradado ou desaparecido.

 

2- O caminho, que se abre da Igreja de S. André para o Palácio de Mafra, conduz-nos ao alto da vela (velar, estar vigilante e atento) por uma subida do sacrifício em direção à salvação, a Deus, a Basílica.

-Um caminho íngreme até ao deslumbramento da grandiosidade e ostentação do palácio, uma metáfora do paraíso. Uma alegoria da vida? A dificuldade e efemeridade do tempo terreno e a recompensa na casa de Deus. (partilha de ideias)

«é a casa dos Sete-Sóis, muito perto da igreja da Santo André e palácio dos viscondes, mora, aqui na parte mais antiga da vila, ainda se vêem uns restos do castelo que os mouros levantaram no seu bom tempo, manhã cedo saíram, vão encontrando pelo caminho outros homens da terra, que Baltasar conhece, vai tudo para a obra, […] como Mafra está no fundo duma cova, têm aqueles de subir por carreiros que já não são os de antigamente, cobriu-os o entulho que do Alto da Vela vem sendo despejado» Memorial do Convento, Ed. Caminho 1982, p. 139.

3- Palácio Nacional de Mafra. Na sua arquitetura destaca-se a ordem, o equilíbrio, a simetria, a volumetria, a dimensão, a distribuição do espaço, a função, a simbologia... (partilha de ideias)

- A ordem social, a racionalidade e o poder absoluto. Deus dá o poder ao Rei que o exerce sobre o povo. Rei, clero, nobreza e povo. O argumentário na estatuária dos doutores da Igreja. (partilha de ideias)

«A igreja, ponto central da fachada, marca a convergência entre o espaço palaciano e o espaço sacralizado, cuja articulação, através da Sala das Bênçãos, materializa o conceito de poder absoluto divinizado, confirmado pela magnificência da mole arquitetónica e pelo aparato e qualidade das obras de arte que a complementam.» O Real Edifício de Mafra: memória da fundação

 

4- O interior do Palácio Nacional. Descobre simetrias, harmonias, ordem nas decorações. (partilha de ideias)

-A contra-reforma e a afirmação da doutrina da igreja. A companhia de Jesus dedicou-se à doutrinação.

«E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer? […] temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António […] começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam». ORDEM SOCIAL

- A oratória, arte de bem falar, representação dramática (cerimónia litúrgica, missa em latim, o púlpito, a profusão/exagero decorativo e colorido). DELECTARE

«têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam […] Uma é louvar o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar e repreender o mal para preservar dele […] vossas virtudes […] é aquela obediência […] aquela ordem, quietação e atenção […] tão quietos e tão devotos».

- A retórica, organização de ideias submetida à lógica em favor da doutrina, para persuadir os fiéis. DOCERE

«Vede, peixes, quão grande bem é estar longe dos homens […] uma é alumiar e curar vossas cegueiras, e outra lançar-vos os demónios fora de casa. Quatro Olhos […] olhassem para cima, […] olhassem para baixo, […] considerando que há Céu, e que há Inferno […] Oh que boa doutrina era esta para a terra […] Louvai a Deus»

- «Louvai a Deus […] Louvai a Deus» Levar o fiel à acção. MOVERE

 

 Deleita-te com os pormenores. Põe os teus fones e desfruta do espaço ao som de música barroca, descobre a pintura onde S. António prega aos peixes:

Vivaldi: primavera: https://www.youtube.com/watch?v=l-dYNttdgl0

inverno: https://www.youtube.com/watch?v=nGdFHJXciAQ

tempestade: https://www.youtube.com/watch?v=VBezMA7PL7c

Back: Toccata et Fuga: https://www.youtube.com/watch?v=ho9rZjlsyYY

Trabalhos: escreve os teus pensamentos e reflexões apreendidos ao longo da visita, seleciona duas fotos tuas e justifica a tua escolha com argumentos.

Pensa e estrutura uma apresentação oral para os teus colegas onde partilhes o teu olhar sobre…, recorrendo ao teu material.

Desafio: vai a um concerto, evento, jogo do teu clube, cerimónias de grandes eventos, desfiles de moda… e encontra semelhanças no layout visual, publicitário, redes sociais …

Conceitos a investigar: ponto de fuga, perspectiva (Piero della francesca), proporção áurea, número de ouro.