Opera Barroca

Opera Barroca

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Ramalhete

O Ramalhete acompanha o percurso da família de Os Maias. No início, está desabitado e sem vida, pois Afonso vive no retiro de Santa Olávia, no Douro. Quando Carlos decide vir habitá-lo transforma-se num local simbólico de esperança para a família. Nesse momento, a cascata, até então abandonada, ganha vida. Opera-se como um renascimento da família, que durará pouco tempo.

Finalmente a tragédia abate-se sobre a família e o Ramalhete transforma-se mais uma vez com a cascata a chorar gotas de água e a estátua ganhando ferrugem. Tudo aponta para uma espécie de cemitério, onde domina uma atmosfera funérea, sobrando unicamente o cipreste e o cedro, árvores que pela sua longevidade simbolizam a vida e a morte, tornando-se testemunhas da vida e da morte de Os Maias. Com o desaparecimento de Afonso, a morte instala-se definitivamente e os seus móveis cobertos de lençóis brancos, lembram mortalhas fúnebres. Degradados e dispostos em confusão lembram a destruição e morte da família e metonimicamente o estado do país.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Realismo/Naturalismo (1865-1890)

Eça de Queiróz (1845-1900)


A Geração de 70 criou um novo romantismo limitado aos problemas e obsessões nacionais. Profundamente influenciado pelo cosmopolitismo europeu, nomeadamente de influência francófona, denota um inconformismo com a tradição, centrando-se numa nova compreensão do social sob o prisma dos avanços da ciência e da tecnologia, originando uma nova crença no Homem, acreditando que este superaria os seus limites.

Fazendo fé na supremacia da verdade física e no desenvolvimento das ciências exactas e experimentais, o realismo estruturou as suas bases em novas teorias filosóficas como o idealismo de Hegel, o socialismo de Proudhon e o positivismo de Comte, além das teorias evolucionistas de Darwin e Lamark.

Daqui surgiram novos princípios de justiça e igualdade, bem como o materialismo optimista, graças ao progresso técnico, o que explica o atraso do passado pela passividade do Homem e a sua crença nas forças sobrenaturais. Este novo enquadramento ideológico provoca uma verdadeira revolução cultural, pois repensa e questiona toda a cultura portuguesa desde as origens, fixando-se no ponto alto das Descobertas.

Pretende-se, assim, preparar uma profunda transformação na ideologia política e estrutural social portuguesas, que culminará com a revolução republicana de 1910.

A questão Coimbrã, embora não tivesse sido ainda o confronto entre romantismo e realismo, cria as condições para a instauração do Realismo em Portugal, na medida em que se acentua o papel que cabe à literatura como fenómeno de intervenção crítica na vida da colectividade, com o intuito de a modificar e lançar na modernidade.
Eça de Queirós, na 4ª Conferência do Casino, definiu o Realismo como «uma base filosófica para todas as conceções de espírito - uma lei, uma carta de guia, um roteiro do pensamento humano, na eterna região do belo, do bom e do justo [...] é a crítica do Homem [...] para condenar o que houver de mau na nossa sociedade. [...] É não simplesmente o expôr o real, minudente, trivial, fotográfico, [...] mas sim partir dele para a análise do Homem e sociedade».

Podemos sintetizar como características gerais do Realismo:
- a análise e síntese da realidade com objetividade, em oposição à subjetividade romântica;
- a exatidão, veracidade e abundância de pormenores, com o retrato fidelíssimo da natureza;
- a total indiferença perante o "Eu" romântico subjectivo e pensante perante a natureza;
- a neutralidade de coração perante o bem e o mal, o feio e o bonito, o vício e a virtude;
- a análise corajosa de vícios e a podridão da sociedade;
- o relacionamento lógico entre as causas desse comportamento patológicos, biológicas ou sociais, e a natureza interior e exterior da personagem);
- a admissão de temas cosmopolitas na literatura;
- o uso de expressões simples e sem convencionalismos, por oposição ao tom declamatório romântico.

Já a corrente do Naturalismo difere do Realismo, mas não é independente dele. Ambos crêem que a arte é a representação mimética e objectiva da realidade exterior. Foi a partir desta tendência geral para o Realismo mimético que o Naturalismo surgiu, sendo por isso muitas vezes encarado como uma intensificação do Realismo.

As características principais do Naturalismo são:
- a tentativa de aplicar à literatura as descobertas e métodos da ciência do séc.XIX (filosofia, sociologia, fisiologia, psicopatologia, etc), tentando explicar as emoções através da sua manifestação física, apresentando, assim, mais razões científicas do que a simples descrições dos factos do Realismo;
- a temática centra-se muitas vezes na escolha de assuntos mais chocantes como o alcoolismo, o jogo, o adultério, a opressão social, as doenças, as suas causas e consequências;
- o vocabulário mais terra-a-terra, motes mais cativantes ou detalhes mais fotográficos.
O Naturalismo acabou por se tornar uma doutrina que instituiu que o indivíduo era primário e fundamentalmente modelado pela hereditariedade, meio e educação, isto é, pela «natureza», com uma certa visão muito específica, a que Eça de Queirós chamou: «forma científica que a arte assume» do Homem e do seu comportamento, tornando-se mais concreto, mas também mais limitado que o Realismo.
Paula Rego, "Mulher Cão", Pastel de Óleo, 1994, Tate Gallery.